segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O que é real?

Na maioria das vezes eu fico sentada na maca do consultório onde o médico/prof atende os pacientes internados. Junto comigo geralmente estão mais alguns colegas. Os pacientes se sentam de frente para o médico na mesa.
Certa vez estava conversando com o médico uma paciente, e enquanto isso, entrava toda hora no consultório uma outra paciente, e parecia estar um pouco exaltada. Toda vez que entrava na sala pedia alta (algo muito comum.....irem atrás do médico pedindo alta...um dia escreverei todas as tentativas que já ouvi para conseguirem alta...) e toda vez o médico pedia para ela se retirar e esperar a vez dela de ser "entrevistada".
Quando finalmente a chamamos ela já entrou pedindo sua alta ao médico em um tom um pouco exaltado. Quando o médico nos apresntou a ela como estagiários, ela fez uma cara feia e disse que odiava estagiários da medicina....Depois de um certo tempo, se sentindo mais confortável com nossa presença, ela voltou a insistir que gostaria de sair dali e começou a dizer o porquê.
Disse ao médico que eles tinham um filho....(sim, ela e o médico tinham um filho juntos na cabeça dela) e que ele havia tido esse filho graças a um encontro que eles tiveram uma vez no shopping da cidade. O médico ao desmentir delicadamente a situação para ela, a deixou um pouco mais exaltada e foi quando ela o chamando por outro nome que não o dele, tentou lembrar-lo de que ele deu de presente de casamento para ela uma viagem de lua de mel para portugal de navio, e insitia em perguntar se ele não se lembrava....(e o chamando por um nome que não o dele).
Sem pausa em sua fala, imediatamente já emendou que o cigarro era free azul e não o vermelho!! (???).
Ao perceber que a conversa não fazia sentido, o médico tentou cortar sua fala, e foi quando ela voltou a pedir sua alta, que não aguentava mais ficar lá e queria sair. Ao negar mais uma vez delicadamente, a paciente se exaltou de uma maneira que eu fiquei a postos se precisasse sair correndo.....Bateu com a mão (grandona diga-se de passagem...) na mesa do consultório fazendo um barulhão, disse algumas palavras desagradáveis e saiu da sala.
Aquele dia posso afirmar que senti um certo medo!
Infelizmente o diagnóstico dessa paciente eu não me lembro, mas acho que era esquizofrenia. Certamente sei que o quadro que ela apresentava era um quadro de delírio, dado que ela dizia ter um caso e filho com o médico (que não era real, claro) e o chamando por outro nome (me pergunto até hoje se ela via outra pessoa no lugar do médico....).

Explicando melhor o delírio.....

Um delírio é definido geralmente como uma falsa crença e é usado na linguagem formal para descrever uma crença que é ou falsa, irreal ou derivada de fraude. Em psiquiatria, a definição é necessariamente mais precisa e implica que a crença é psicopatológica (o resultado de uma enfermidade ou de transtorno mental).
Delírios ocorrem tipicamente no contexto de
doenças mentais ou neurológicas, embora não estejam ligados a qualquer moléstia em particular e tenham sido encontradas no contexto de muitos estados patológicos (tanto físicos quanto mentais). Todavia, elas são de particular importância no diagnóstico de desordens psicóticas e particularmente na esquizofrenia.
O filósofo Karl Jaspers foi o primeiro a definir os três critérios principais para que uma crença seja considerada delirante, em seu livro General Psychopathology:
1 - certeza (mantida com absoluta convicção)
2 - incorrigibilidade (não passível de mudança por força de contra-argumentação ou prova em contrário)
3 - impossibilidade ou falsidade do conteúdo (implausível, bizarro ou patentemente inverídico)

(Wikipédia).

3 comentários:

  1. Nossa. Adorei seu blog. Vou entrar na universidade federal de medicina do meu estado. E gostaria MUITO MESMO de saber como é a rotina em um estágio como esse. Estágio, alias, que eu tbm pretendo conseguir.

    Por favor, continue postando.
    Já conheceu alguém com psicose? Quanto a medicação, já acompanhou a melhora de alguém? O transcorrer da droga no paciente ao decorrer do tempo?

    Insisto que não esqueça do blog ;D
    Procurarei sempre acompanha-lo.
    Belladona! Aguardo post.

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  2. Erickson, quanto as suas perguntas, já sim acompanhei pacientes com psicose....infelizmente essas drogas são de efeito controlador, porém não curativo. Sempre pude ver uma melhora do quadro dos pacientes em um período relativamente bom, que varia em torno de um mês. Mas o que ocorre muito é o regresso dos sintomas quando a droga não administrada corretamente.... portanto vejo pacientes melhorarem, mas também muitos acabo vendo novamente. Mas ai já envolvem algumas questões como por exemplo a patologia mental...
    Obrigada pelo elogio! Não esquecerei de postar aqui e fico feliz que acompanhe! =)

    Belladona

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  3. Há uma linha tênue que separa a loucura da sanidade ... do que é real e do que não é, neste mundo de pernas para o ar que vivemos ... cuja rotina é a grande responsável por deixar as coisas mais arrumadinhas, como exemplo, um cafezinho depois de um atendimento punk ... um docinho ... Pois bem, ressalto a importância de Cuidar do Cuidador ... a análise pessoal (terapia) é importante para entender muitos sentimentos e lidar melhor com nossos vários Eus.
    PARABÉNS pela sensibilidade e qualidade de seu Blog.

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